O convite está impresso nos coloridos folhetos distribuídos pela CP: "Aproveite melhor o Verão viajando nos comboios regionais do Oeste. Viaje com toda a tranquilidade e vá directamente à praia sem perder uma maré". A imagem de um sorridente casal de surfistas acompanha um resumo horário com as ligações às praias de Salir do Porto e de São Martinho do Porto.Só que a transportadora nunca teve um horário tão mau para servir os banhistas que queiram aventurar-se naquelas praias. O número de comboios entre Caldas das Rainha e São Martinho do Porto nunca foi tão reduzido - apenas cinco comboios em cada sentido quando há 20 anos existiam nove e há 40 anos eram dez. Nos dias úteis, os passageiros só podem mesmo contar com duas composições em cada sentido, sendo que o regresso deverá ser às 17h54, numa altura em que o sol ainda está alto e apetece ficar no areal até ao cair da tarde.A coisa piora quando se olha para os horários promocionais da CP e se constata que de São Martinho do Porto para o Bombarral, os 30 quilómetros de distância são percorridos em uma hora e 26 minutos! Ou seja, à velocidade média de 20 quilómetros/hora.E não é caso único. Para percorrer os mesmos 30 quilómetros, as restantes ligações demoram uma hora e quatro minutos e uma hora e oito minutos. Com uma notável excepção: há um comboio que faz a viagem em 36 minutos. Um autêntico TGV para os parâmetros da Linha do Oeste. A CP não engana os clientes quando refere expressamente "viaje com toda a tranquilidade". Mas troca-lhes as voltas quando acrescenta: "e vá directamente à praia sem perder uma maré". É que os comboios não são directos. A empresa obriga os potenciais veraneantes a mudar de comboio nas Caldas da Rainha e a esperarem entre 36 e 50 minutos pelo comboio seguinte. Os passageiros não percebem por que motivo saem de uma composição para entrar noutra exactamente igual, tudo isto numa estação que até nem está no fim da linha, mas exactamente no meio do corredor ferroviário que liga Lisboa à Figueira da Foz/Coimbra. Sobre as razões para esta situação, a CP respondeu que "garante o serviço necessário ao público, dentro das suas possibilidades e constrangimentos relativos quer à infra-estrutura, quer à disponibilidade de material". No entanto, segundo o PÚBLICO apurou, não há por parte da Refer qualquer constrangimento a que as viagens prossigam sem ter que se efectuar transbordos.Estas mudanças levam a que as viagens que a CP anda a promover sejam tão morosas e explicam também que a maioria das pessoas do Oeste prefira ir à praia de automóvel.Em 1989, a viagem entre Bombarral e São Martinho do Porto demorava entre 30 e 47 minutos e em 1966 era possível ir à praia de comboio em meia hora. Hoje demora-se três vezes mais, mas, em contrapartida, há panfletos nas estações a anunciar que "quem vai de comboio não perde uma maré".
Os Comboios da Linha do Oeste estão longe de poderem competir com os meios de transportes rodoviários
in http://maissaomartinhodoporto.blogspot.com/ e Jornal Publico